13.5.17

Francisco Bosco: "Da Amizade"



Da Amizade

Não é pelo saber nele encerrado,
mas sim pelo sabor da língua antiga

– qual num palimpsesto culinário,
na língua nova a língua traduzida:

os nomes próprios são especiarias,
Tibério, Caio Lélio, Cipião,

são como mariscos pescados nas ilhas,
aura e sal conservados no som –,

que a leitura do Da Amizade,
de Marco Túlio Cícero, o romano,

portanto é menos uma aprendizagem,
que um pequeno rito gastronômico:

é como se comêssemos um prato
envolto em naufrágios e segredos

– os cozinheiros estão todo mortos,
os livros, porém, guardam a receita.



BOSCO, Francisco. "Da Amizade". In:_____. Da Amizade. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2003.

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