31.5.13

Jaime Gil de Biedma: "Canción para ese dia" / "Canção para esse dia": trad. de José Bento





Canción para ese día



He aquí que viene el tiempo de soltar palomas
en mitad de las plazas con estatua.
Van a dar nuestra hora. De un momento
a otro, sonarán campanas.

Mirad los tiernos nudos de los árboles
exhalarse visibles en la luz
recién inaugurada. Cintas leves
de nube en nube cuelgan. Y guirnaldas

sobre el pecho del cielo, palpitando,
son como el aire de la voz. Palabras
van a decirse ya. Oíd. Se escucha
rumor de pasos y batir de alas.




Canção para esse dia


Eis que chega o tempo de se soltar pombas
no meio das praças com estátua.
Vão dar a nossa hora. De um momento
a outro, irão ouvir-se badaladas.

Olhai os tenros nós das árvores
exalar-se visíveis na luz
recém-inaugurada. Leves fitas
pendem de nuvem em nuvem. E grinaldas

sobre o peito do céu, a palpitar,
são como o ar da voz. Palavras
vão ser já ditas. Escuta-se
rumor de passos e bater de asas.




BIEDMA, Jaime Gil de. Antologia poética. Seleção e tradução de José Bento. Lisboa: Cotovia, 2013.

2 comentários:

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,

poema admiravelmente lindo!



Abraço forte,
Adriano Nunes

antónio gil disse...

belo esvoaçar de fonemas. Grato, António Cícero pela partilha.