29.1.13

Ricardo Silvestrin: "Juro dizer a meia-verdade"






Juro dizer a meia-verdade
a meia-mentira
o centauro por inteiro

nada mais que a sedução da sereia
o passo em falso, verdadeiro
na beira de um desfiladeiro

juro com a mão direita
sobre a bíblia
e a mão esquerda abanando

em nome de Deus, de Zeus
de Oxalá ou da besta

juro que os que quiserem
somente a verdade
vão perder o melhor da festa






SILVESTRIN, Ricardo. Palavra mágica. Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro / Massao Ohno, 1994.

27.1.13

Olavo Bilac: "A um poeta"






A um poeta


Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima , e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostre na fábrica o suplicio
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.





BILAC, Olavo. Tarde. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1919.

25.1.13

Giuseppe Ungaretti: "Lontano" / "Longe": trad. Sérgio Wax







Longe

Versa, 15 de fevereiro 1917

Longe bem longe
como um cego
levaram-me pela mão




Lontano

Versa, 15 febbraio 1017

Lontano lontano
come un cieco
m'hanno portato per mano




UNGARETTI, Giuseppe. A alegria / L'allegria. Ed. bilingue. Trad. Sérgio Wax. Belém: CEJUP, 1992.

24.1.13

José Castello: "Cicero, poeta do tempo"








Orgulho-me de aqui postar o seguinte artigo, do escritor e crítico literário José Castello, que foi publicado no dia 18 do corrente na coluna "Instantâneos Literários", do suplemento EU&, do jornalValor Econômico.


Cicero, poeta do tempo
por José Castello


Nossa vida cotidiana tornou-se quase inteiramente regida por princípios utilitários, pragmáticos, instrumentais, lamenta o poeta e filósofo carioca Antonio Cicero, de 67 anos. "Sempre foi assim, porém hoje as novas tecnologias eletrônicas potencializaram essa subordinação da vida ao princípio do desempenho." Ele reconhece que elas mudaram a vida de todos nós, que houve um avanço e uma transformação. Mas isso será apenas bom? "Ao invés de economizarem nosso tempo, as novas tecnologias o consomem." A tecnologia do século XXI devora o tempo. Devora o próprio século XXI. Resta-nos pouco tempo para meditar e contemplar. Para viver.
Para escapar dessa armadilha, Cicero - que no dia 11 se inscreveu para concorrer à vaga deixada pelo poeta Ledo Ivo na Academia Brasileira de Letras - se impõe certas regras pessoais, que segue com abnegação. Só consulta seus e-mails duas vezes por dia. Acessa a internet, na maior parte das vezes, apenas para fazer pesquisas, usando-a, assim, como uma antiga enciclopédia. Mantém um blog, chamado Acontecimentos (antoniocicero.blogspot.com.br), mas só o alimenta, com textos seus ou alheios, a cada dois dias. Também não participa das redes sociais, como o Facebook e o Twitter. Mesmo o celular, só o utiliza no caso de emergências, embora nele carregue também alguns dicionários e outros textos, de que eventualmente se vale. "Para mim, é imprescindível ter tempo", diz.
No mundo instrumentalizado e pragmático em que vivemos, ele admite, "é grande o pessimismo com que muitos consideram as artes tradicionais e, em particular, a poesia". Nosso mundo é veloz, obcecado por índices e resultados, quer as coisas sempre "para ontem". Tem como ideal, portanto, devorar o tempo, não usufruí-lo. "As artes tradicionais têm perdido sentido na medida em que deixaram de corresponder à exaltação contemporânea da atividade veloz, multifuncional, polivalente." Ninguém pode ler poesia, Cicero lembra, como quem lê um e-mail ou uma bula. A poesia não se lê apressadamente, mas, ao contrário, exige lentidão e entrega, paciência e concentração, devaneio e tempo. A poesia exige de seu leitor uma entrega absoluta. "Para ler poesia, o leitor deve entregar-se incondicionalmente, por um tempo determinado, aos caprichos semânticos, sintáticos, sonoros do poema." Mais uma vez: a leitura da poesia exige tempo. Dizendo de outra forma: a matéria da poesia é o próprio tempo.
O mais grave: essa entrega incondicional não oferece ao leitor garantia alguma de que ele terá, ao fim da leitura, um resultado palpável. A verdade é que não o terá. Em consequência, lembra Cicero, para a maioria das pessoas a poesia guarda um aspecto anacrônico. Extemporâneo, intempestivo, inoportuno. A poesia parece estar "fora do tempo" quando, ao contrário, ela é, por excelência, o lugar do tempo. Avisa Cicero, desde logo, que não partilha desse pessimismo em relação à poesia e às artes. "Ao contrário, penso que, ao abrir para o leitor uma dimensão do ser oposta à utilitária, pragmática, instrumental, uma dimensão do tempo que não é regida pelo princípio do desempenho, a literatura lhe oferece a possibilidade de um enorme enriquecimento vital." A poesia é um sopro que nos desperta. Mas é também uma brisa lenta e sutil, que exige paciência e serenidade. Quem chega a ela, porém, se vitaliza.
Assim é Antonio Cicero em pleno terceiro milênio: um homem que, justamente porque tem como matéria o tempo, está, de certo modo, fora do tempo ou, pelo menos, contra o momentâneo. Sim: é preciso aqui distinguir tempo e instante. O tempo é um fio, o instante é um corte. O tempo é uma longa estrada, o instante um semáforo que nos leva a parar para, logo depois, partir em disparada. Precisamos reaprender a respirar. Tudo isso vem... com o tempo! O pai de Cicero tinha uma grande biblioteca. Desde adolescente, ele pôde ler muito. Os portugueses, os russos, os franceses, os ingleses, os alemães, os italianos. Admite: "Hoje leio muito pouca ficção". Hoje lê, sobretudo, poesia e ensaio. Poesia e filosofia. "Acho que é uma questão de administração do tempo. Escrever sobre filosofia exige de mim um bom tempo de leitura, estudo e reflexão." Outra vez, e mais uma vez, o tempo, que deve ser curtido, alongado, prorrogado - isso em um século regido pelo culto ao instantâneo e ao "tempo real", que nada mais é que uma lasca do tempo, uma sucessão louca de fatias muito finas. E nos entulhamos dessas fatias finas e avulsas e ao fim (do tempo) estamos intoxicados, sem poder dizer o que engolimos. Não é assim nosso século?
Cicero lê também, é claro, muita poesia. E é a leitura da poesia, como em um círculo mágico, que o leva a escrever poesia. Que o empurra de volta a ela. Em seu livro mais recente, "Porventura" (Record), no poema "Auden e Yeats", como se estivesse dialogando com o poeta irlandês William B. Yeats (1865-1939), ele escreve: "possa a leitura da tua/ poesia, pura Musa,/ inspirar a minha arte". Outra vez a respiração. Mais uma vez o tempo, com seu ritmo mais natural, o inspirar e expirar. "A grande poesia, como a de Yeats, funciona para mim como uma Musa, que me impele a escrever." Logo: a poesia não é soprada desde fora, pelas filhas de Zeus, deusas distantes da Grécia antiga. É na própria poesia que a Musa habita. A poesia é a Musa da poesia, nos leva Cicero a pensar.
No mundo atual, lamenta Cicero, "é grande o pessimismo com que muitos consideram as artes tradicionais e, em particular, a poesia"
Entre todos os poetas, ele diz ainda, aquele com quem continua mais a aprender é Horácio (65 a.C.-8 a.C.), o poeta e filósofo da Roma antiga. "Cada vez que releio um de seus poemas, maravilho-me como se estivesse lendo pela primeira vez." Surpreende-se, sobretudo, com o modo como, nos poemas de Horácio, cada palavra modifica e é modificada pelas demais. Como se o poema estivesse vivo. (E não está?) Com seu olhar exigente, Antonio Cicero - embora leia os poetas brasileiros contemporâneos - acredita que a melhor poesia brasileira foi produzida no século XX. "Sobretudo a partir do modernismo." Pensa em Bandeira, Drummond, Cabral, Murilo Mendes, Cecília Meireles, poetas que constituem uma base muito forte para a poesia contemporânea. "E penso que há poetas contemporâneos que fazem jus a essa tradição." Discreto, prefere não citar nomes. Quanto a si mesmo, porém, não consegue se situar "em nenhum cenário literário". E, na verdade, nem faz questão disso. "Parece-me que, para fazê-lo, seria preciso tentar ver-se como que pelos olhos dos outros, e desconfio que quem consegue fazer tal coisa diminui a própria espontaneidade e potência". Um poeta deve contar apenas com o próprio olhar, ainda que esse olhar, a rigor, seja o da cegueira.
Cicero está cercado de livros. Lista que considera "nada original": Shakespeare, Hölderlin, Leopardi, Baudelaire, Rilke, Brecht, Yeats, Pessoa, Bandeira, Drummond e tantos outros. "Com eles aprendi que um poema é um objeto de palavras que merece existir por si." Adverte, porém, que essa afirmação não significa uma adesão ao formalismo. "Não é apenas a forma das palavras que interessa num poema, mas tudo aquilo de que ele é composto, inclusive os significados que ele suportar." Apesar dessa ressalva, insiste: um poema merece existir por si. "Sua apreciação mobiliza e confunde, isto é, atualiza, num jogo singular, as nossas mais diversas faculdades." Não apenas o intelecto, mas a imaginação, a razão, a sensibilidade, a sensualidade, a emoção - pensa Cicero - são afetadas pela leitura de um poema. O leitor se agita por inteiro. O poema (uma faca de palavras) o atravessa. A leitura do poema o interroga e transforma.
Ainda na adolescência, recorda-se, descobriu o conselho do russo Vladimir Maiakóvski (1893-1930), considerado o maior poeta do futurismo, que recomendava aos jovens poetas carregarem sempre um caderninho de notas e uma caneta. Até recentemente, cumpriu-o à risca. Depois descobriu que podia usar o telefone celular não tanto como telefone, mas como bloco de notas. "Eu o uso mais para isso, e como dicionário, do que como telefone".
Também abandonou o papel: hoje escreve já as primeiras versões de seus poemas no computador. Contudo, a sombra do papel permanece inalterável: não consegue ler bem um poema e corrigi-lo, se o conserva na tela do computador. Precisa imprimi-lo: só consegue mexer nele quando o deixa de volta deitado no papel. Depois, retorna ao computador, mais uma vez ao papel, outra ao computador etc., até o dia em que, por fim, dá o poema por terminado. É um processo longo e lento, em que, pouco a pouco, muitas palavras são abandonadas e muitas outras incorporadas, uma longa gestação que exige persistência e paciência. De fato, nos mostra Cicero, não existe poeta impaciente. Pelo menos, não para ele.
A poesia lhe surge de repente e em qualquer lugar. Pode surgir quando já está deitado, quase dormindo ou quase acordando, e nesses casos precisa se levantar correndo e anotá-la ou ela se perderá. "Caso não o faça, ela será, em 99% dos casos, esquecida. As palavras são, como dizia Homero, aladas, e voam para longe." Nada disso, contudo, o afeta ou cansa. A poesia (mesmo o mais árduo dos poemas) sempre deu a Cicero grande prazer e alegria. Entende assim: "A escrita é uma forma de enfrentar e superar a dor ou o sofrimento". Nesse caso, enfim, a poesia tem, sim, uma utilidade. Um uso íntimo, pessoal, secreto - que relação alguma estabelece com as vantagens de mercado ou com os objetivos da produção. Cada poema a seu tempo. Cada poeta com seu tempo. Matéria da poesia, o tempo é uma experiência singular e particular. Tempo de cada um, sempre assim.
Cicero prepara, no momento, uma coletânea de ensaios. Ao mesmo tempo, planeja escrever um livro sobre o niilismo. "Tento mostrar que a filosofia radicalmente ambiciosa, que é aquela em que a razão busca a verdade absoluta e universal, inevitavelmente conduz ao niilismo" (do latim "nihil", isto é, nada). Hoje, apesar de seu apego à poesia, são, sobretudo, as preocupações filosóficas que o movem. Embora considere poesia e filosofia "atividades opostas", apega-se às duas. Enquanto a filosofia depende de uma argumentação que a sustente, a poesia basta a si mesma. São duas paixões antagônicas que, no entanto, ele não consegue separar.
A preocupação central de Cicero, nos dois casos, é sempre com a passagem do tempo. Depois dos 60 anos de idade, começou a se preocupar cada vez mais - como é natural - com a idade, a velhice e a morte. O tempo, mais uma vez, está no coração do poeta. Em seu último livro, "Porventura", ele aparece no centro de poemas como "Balanço", "Palavras Aladas", "Meio Fio" e "Presente". Matéria da poesia, o tempo é também, no caso de Cicero, seu objeto. O tempo que, em seu caso, quase chega a ser um sinônimo de poesia.


Leia mais em:
http://www.valor.com.br/cultura/2974610/cicero-poeta-do-tempo#ixzz2ItheyA52

20.1.13

Site de Evando Nascimento






Recomendo a todos visitar o excelente novo site do escritor e professor Evando Nascimento, no endereço http://www.evandonascimento.net.br/.

19.1.13

Ranier Maria Rilke: "Die Gazelle" / "A gazela": trad. de Augusto de Campos






A gazela

Mágico ser: onde encontrar quem colha
duas palavras numa rima igual
a essa que pulsa em ti como um sinal?
De tua fronte se erguem lira e folha

e tudo o que és se move em similar
canto de amor cujas palavras, quais
pétalas, vão caindo sobre o olhar
de quem fechou os olhos, sem ler mais,
para te ver: no alerta dos sentidos,
em cada perna os saltos reprimidos
sem disparar, enquanto só a fronte

a prumo, prestes, pára: assim, na fonte,
a banhista que um frêmito assustasse:
a chispa de água no voltear da face.



Die Gazelle

Verzauberte: wie kann der Einklang zweier
erwählter Worte je den Reim erreichen,
der in dir kommt und geht, wie auf ein Zeichen.
Aus deiner Stirne steigen Laub und Leier,

und alles Deine geht schon im Vergleich
durch Liebeslieder, deren Worte, weich
wie Rosenblätter, dem, der nicht mehr liest,
sich auf die Augen legen, die er schließt:

um dich zu sehen: hingetragen, als
wäre mit Sprüngen jeder Lauf geladen
und schösse nur nicht ab, solang der Hals

das Haupt ins Horchen hält: wie wenn beim Baden
im Wald die Badende sich unterbricht:
den Waldsee im gewendeten Gesicht.




RILKE, Ranier Maria. "Neue Gedichte I". In: CAMPOS, Augusto de (org. e trad.). Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva, 2007.

16.1.13

Ascenso Ferriera: "Filosofia"






Filosofia

Hora de comer – comer!
Hora de dormir – dormir!
Hora de vadiar – vadiar!
Hora de trabalhar?
-- Pernas pro ar que ninguém é de ferro!



FERREIRA, Ascenso. In: MORICONI, Ítalo (org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

13.1.13

Murilo Mendes: "O utopista"




O utopista

Ele acredita que o chão é duro
Que todos os homens estão presos
Que há limites para a poesia
Que não há sorrisos nas crianças
Nem amor nas mulheres
que só de pão vive o homem
que não há um outro no mundo.




MENDES, Murilo. "Os quatro elementos". In:_____. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.

11.1.13

Terá lugar amanhã o curso de Noemi Jaffe






É com grande prazer que anuncio que terá lugar amanhã, dia 12 de janeiro, o curso Princípios Essenciais da Escrita Criativa, que será dado por Noemi Jaffe, autora, entre outras coisas, dos admiráveis A verdadeira história do alfabeto (Companhia das Letras), O que os cegos estão sonhando (Editora 34) e Quando nada está acontecendo (Martins Fontes). Tenho certeza de que será o máximo.


Mais informações em www.estacaodasletras.com.br.



Clique na parte inferior da imagem, para ampliá-la:

10.1.13

Mário Quintana: "Emergência"






Emergência

Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
– para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.



QUINTANA, Mário. "Emergência". In: MORICONI, Ítalo (org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

8.1.13

Ronald de Carvalho: "Epigrama"








Epigrama

Enche o teu copo, bebe o teu vinho,
enquanto a taça não cai das tuas mãos...

Há salteadores amáveis pelo teu caminho.
Repara como é doce o teu vizinho,
repara como é suave o olhar do teu vizinho,

e como são longas, discretas, as suas mãos...




CARVALHO, Ronald de. "Epigrama". In: BANDEIRA, Manuel (org.). Apresentação da poesia brasileira. São Paulo: Cosacnaify, 2009.

6.1.13

Jules Renard: do "Journal"





O trabalho pensa, a preguiça sonha.




RENARD, Jules. Journal. Paris, Gallimard, 1935.





4.1.13

George Gordon Byron: Fragmento / Fragment: trad. de Augusto de Campos








Fragmento
Nas costas do manuscrito do Canto I de "Don Juan"

Tivesse eu tanto barro em mim pesado,
Quanto sangue, ossos, dor, nervos, paixão –
Ao menos o passado era passado –
E o futuro – (eu escrevo em confusão,
Tendo bebido tanto, que, coitado,
Penso pisar o teto em vez do chão)
O futuro não é questão de moda –
Então – Que diabo! – um viva ao vinho e à soda!




Fragment
On the back of the Poet’s MS. Of Canto I of "Don Juan"

I would to heaven that I were so much clay,
As I am blood, bone, marrow, passion, feeling -
Because at least the past were passed away -
And for the future - (but I write this reeling,
Having got drunk exceedingly today,
So that I seem to stand upon the ceiling)
I say - the future is a serious matter -
And so - for God's sake - hock and soda water!




BYRON, George Gordon. "Fragment on the back of the Poet's MS. of Canto I of 'Don Juan'" / "Fragmento nas costas do manuscrito do Canto I de 'Don Juan'". In: CAMPOS, Augusto de (trad. e org.). Byron e Keats. Entreversos. Campinas: Unicamp, 2009.



3.1.13

A escritora Noemi Jaffe oferece o curso Princípios Essenciais da Escrita Criativa

É com grande prazer que anuncio que Noemi Jaffe, autora, entre outras coisas, dos admiráveis A verdadeira história do alfabeto (Companhia das Letras), O que os cegos estão sonhando (Editora 34) e Quando nada está acontecendo (Martins Fontes), estará, no dia 12 do corrente, na Estação das Letras, no Rio de Janeiro, dando o curso Princípios Essenciais da Escrita Criativa. Tenho certeza de que será o máximo.

Mais informações em www.estacaodasletras.com.br.



Clique na parte inferior da imagem, para ampliá-la:

1.1.13

Blaise Cendrars: "Saint-Paul" / "São Paulo": trad. Antonio Cicero





São Paulo

Adoro esta cidade
São Paulo é conforme meu coração
Aqui nenhuma tradição
Nenhum preconceito
Nem antigo nem moderno
Contam apenas esse apetite furioso essa confiança absoluta esse otimismo essa audácia esse trabalho esse labor essa especulação que fazem construir dez casas por hora de todos os estilos ridículos grotescos belos grandes pequenos norte sul egípcio ianque cubista
Sem outra preocupação além de seguir as estatísticas prever o futuro o conforto a utilidade a mais-valia e atrair uma grande imigração
Todos os países
Todos os povos
Amo isso
As duas três velhas casas portuguesas que restam são azulejos azuis




Saint-Paul

J'adore cette ville
Saint-Paul est selon mon coeur
Ici nulle tradition
Aucun préjugé
Ni ancien ni moderne
Seuls comptent cet appétit furieux cette confiance absolue cet optimisme cette audace ce travail ce labeur cette spéculation qui font construire dix maisons par heure de tous styles ridicules grotesques beaux grands petits nord sud égyptien yankee cubiste
Sans autre préoccupation que de suivre les statistiques prévoir l'avenir le confort l'utilité la plus-value et d'attirer une grosse immigration
Tous les pays
Tous les peuples
J'aime ça
Les deux trois vieilles maisons portugaises qui restent sont des faïences bleues




CENDRARS, Blaise. Poésies complètes. Paris: Denoël, 1947.