2.4.11

Charles Baudelaire: "Les chats" / "Os gatos": tradução de Ivan Junqueira




Os gatos

Os amantes febris e os sábios solitários
Amam de modo igual, na idade da razão,
Os doces e orgulhosos gatos da mansão,
Que como eles têm frio e cismam sedentários.

Amigos da volúpia e devotos da ciência,
Buscam eles o horror da treva e dos mistérios;
Tomara-os Érebo por seus corcéis funéreos,
Se a submissão pudera opor-lhes à insolência.

Sonhando eles assumem a nobre atitude
Da esfinge que no além se funde à infinitude,
Como ao sabor de um sonho que jamais
                                        termina;

Os rins em mágicas fagulhas se distendem,
E partículas de ouro, como areia fina,
Suas graves pupilas vagamente acendem.



Les chats

Les amoureux fervents et les savants austères
Aiment également, dans leur mûre saison,
Les chats puissants et doux, orgueil de la
                                        maison,
Qui comme eux sont frileux et comme eux
                                        sédentaires.

Amis de la science et de la volupté
Ils cherchent le silence et l'horreur des
                                        ténèbres ;
L'Erèbe les eût pris pour ses coursiers funèbres,
S'ils pouvaient au servage incliner leur fierté.

Ils prennent en songeant les nobles attitudes
Des grands sphinx allongés au fond des
                                        solitudes,
Qui semblent s'endormir dans un rêve sans fin ;

Leurs reins féconds sont pleins d'étincelles
                                        magiques,
Et des parcelles d'or, ainsi qu'un sable fin,
Etoilent vaguement leurs prunelles mystiques.


BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. Edição biligue. Tadução, introdução e notas de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

5 comentários:

Roberto Bozzetti disse...

Cícero, esse poema...

me impressiona sempre que Baudelaire fala em gatos, parece que eles acendem nele uma fagulha de identificação, que o verso que fala no Erebo capta maravilhosamente. Ivan Junqueira também marca um golaço na tradução, especialmente em "Da esfinge que no além se funde à inquietude". À altura do original. Grande poema, grande postagem,
um grande abraço

Alcione disse...

Passos

Ouço na floreta
Pássaros cantando
E na penumbra
Cheia de orvalho
Esvoaçando
Mansamente pela névoa
Infinitos pontinhos
Entre eu, intrépido,
E eu
A passos lépidos.

Dalva M. Ferreira disse...

Gatos, um bom tema para a arte.

Robson Ribeiro disse...

Belo poema, Cicero. Impressionante.

Estive no IMS no sábado e pude assistir o documentário "Pan-Cinema Permanente". Fiquei impressionado com a vitalidade do Waly Salomão e me diverti muito com a entrevista que ele concedeu num programa de televisão da Síria... Foi bom conhecer mais sobre o grande poeta Waly.
Sua participação foi excelente, como sempre.
Um belo documentário.

Um abraço.

Anônimo disse...

(As crianças) "A princípio, não ousarão tocar no presente: duvidarão da própria felicidade. Depois, suas mãos agarrarão vivamente o brinquedo e eles fugirão, como fazem os gatos, que, tendo aprendido a desconfiar do homem, vão comer longe de nós o bocado que lhes damos." O Brinquedo do Pobre